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Cairo fala

Um artigo interpretativo, uma reportagem, uma crônica sobre o Egito. O texto “Greeting the Unthinkable: Mubarak on Trial“, de Anthony Shadid, publicado pelo New York Times (traduzido pelo Estadão, “O Faraó na Jaula: Mubarak no Banco dos Réus“), reúne qualidades desses três gêneros e oferece um panorama das mudanças em curso naquele país. Shadid apresenta uma polifonia política — as diversas correntes têm voz no texto, e até mesmo a cidade fala.

Cairo se expressa não nas pichações que dizem: “O povo egípcio é livre” — mas na cena criada pela frase marcada nos muros e os soldados de boina vermelha, frações do grupo militar que controla hoje o país. Cairo se manifesta na corrosão de símbolos — nos uniformes e capacetes pretos que não mais representam Mubarak e nas instituições que não mais carregam o seu nome.

É uma reportagem por se sustentar nos depoimentos, por usar as técnicas próprias do meio; tem características de artigo interpretativo, pois sinto que o jornalista sabia o que procurar, tinha em mente sua análise da situação política; soa como crônica quando flui destacando os elementos que contracenam com as falas. Literariedade herdada do new journalism?

De fato, dois desses elementos — artigo, crônica — podem ser reduzidos a um só: a reportagem. Porém, desmembrá-los indica como esse gênero precisa, ao mesmo tempo, da pesquisa, do entendimento das ideias; e da entrega, do recolhimento dos fatos.

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